A endometriose é uma doença inflamatória caracterizada pela presença do endométrio (tecido que reveste a cavidade do útero) fora do órgão – ovários, intestino, apêndice e bexiga são os locais mais comuns. A enfermidade acomete de 10 a 15% das mulheres em idade fértil no mundo, o equivalente a 6 milhões de brasileiras. Cólicas incapacitantes costumam causar prejuízos à qualidade de vida das vítimas da endometriose, mas o efeito mais temido é a infertilidade.
O diagnóstico é feito por meio de exames de imagem (ultrassom e ressonância magnética). Quanto mais cedo a endometriose dor descoberta, melhores são as chances de sucesso no tratamento, feito à base de hormônios e, alguns casos, cirurgia. A maioria das pacientes descobre a doença em estágio avançado – sete anos é a média entre os primeiros sintomas e o diagnóstico –, quando procura um médico por ter dificuldades para engravidar.
A falta de informação das mulheres em relação ao assunto agrava o cenário. Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE) mostrou que 55% das brasileiras desconhecem a endometriose.
A hereditariedade é uma das causas da doença. O ginecologista Fábio Macêdo, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e membro da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), afirma que as chances de uma mulher ser acometida por endometriose aumentam seis vezes se sua mãe ou alguma irmã teve a enfermidade.
A menstruação é apontada como vilã da doença. O corpo tem células chamadas de pluripotentes, que possuem a capacidade de se transformar e se adaptar a diversos tecidos. Ao ser eliminado no sangramento, o endométrio entra em contato com essas células — e pode ser replicado. Como na gravidez e na menopausa não há menstruação, o tratamento à base de hormônios para a endometriose costuma simular uma dessas duas situações.
As mulheres têm cada vez menos filhos e demoram mais para tê-los. Isso faz com que o número de ciclos menstruais durante a vida seja maior, prolongando a atuação do estrogênio — hormônio que estimula o crescimento do endométrio antes da menstruação, preparando o útero para receber um embrião. Essa atuação prolongada eleva as chances de o endométrio se espalhar para onde não deveria.
A dificuldade para engravidar é o que leva a maioria das mulheres a descobrir a presença da endometriose. A condição pode comprometer as trompas, órgão que leva o óvulo ao útero, impedindo a fecundação.
Um estudo publicado em maio deste ano no periódico “Human Reprodution” mostrou que obesas mórbidas (IMC acima de 40) têm cerca de 40% menos chances de desenvolver endometriose se comparadas às mulheres com IMC baixo, mas dentro da normalidade (18,5 a 22,4). Os pesquisadores ainda não sabem exatamente o que motivou o resultado, mas desconfiam de que as obesas tenham maior incidência de ovários policísticos do que as magras — uma condição que pode inibir o surgimento da endometriose, já que as mulheres que têm esses ovários costumam apresentar dificuldades para ovular e às vezes passam meses sem menstruar.
Um dos principais sintomas da endometriose é a cólica menstrual forte, muitas vezes incapacitante – é comum que as vítimas faltem no trabalho e precisem ser medicadas no pronto-socorro. “É aquela cólica que não passa com um analgésico”, explica Fábio Macêdo. Em alguns casos, a dor se torna crônica e se estende por todo o ciclo menstrual. A intensidade das cólicas, porém, independe do estágio da endometriose — a doença pode estar no início, e a paciente se sentir incapacitada pela dor.
Sentir dor durante o ato sexual pode ser um indicador da presença de endometriose. É importante lembrar que, assim como nas cólicas, a intensidade dos sintomas não é necessariamente proporcional ao estágio da doença: uma mulher pode sentir apenas um pequeno desconforto durante o sexo e ter endometriose em uma fase avançada, enquanto outra, que não consegue ter relações por causa da dor, pode apresentar a enfermidade ainda em estágio inicial.
Assim como a relação sexual pode se tornar desconfortável com o aparecimento da endometriose, o toque durante exames que exigem contato com o colo do útero, como o ultrassom transvaginal, também pode provocar dores nas pacientes.
fonte: revista veja